Do site: http://www.autismo.com.br
1 - O que é autismo?
Autismo é uma disfunção global do desenvolvimento, crônica,
incapacitante que compromete o desenvolvimento normal de uma criança e
se manifesta tipicamente antes do terceiro ano de vida. Caracteriza-se
por lesar e diminuir o ritmo do desenvolvimento psiconeurológico,
social e lingüístico. Estas crianças também apresentam reações anormais
a sensações diversas como ouvir, ver, tocar, sentir, equilibrar e
degustar. A linguagem é atrasada ou não se manifesta. Relacionam-se com
pessoas, objetos ou eventos de uma maneira não usual, tudo levando a
crer que haja um comprometimento orgânico do Sistema Nervoso Central.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
2 - É uma doença de fundo orgânico ou emocional?
Antigamente, supunha-se uma causa orgânica, mas com o avanço da
literatura psicanalítica surgiu a hipótese de que os pais seriam, de
certa maneira, os causadores desta problemática. Atualmente, esta
teoria caiu totalmente em desuso devido à enorme gama de estudos
científicos, documentando um comprometimento orgânico neurológico
central. O tratamento está, obviamente, centrado nestas novas
descobertas, conforme os artigos incluídos neste livro.
Esta mudança nos conceitos obriga a uma reformulação teórica, difícil
de ser aceita por certos grupos que até então detinham o controle e o
poder de tratamento destas crianças e que se vêem ameaçados com estas
novas descobertas. É importante que os pais tenham conhecimentos
atualizados para poderem questionar ou escolher o tratamento adequado
para seus filhos.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro:
Revinter;vinter; 1997. pg
3 - E os pais têm culpa?
Antigamente, a literatura psicanalítica formulava a hipótese de que os
pais eram "esquizofrenogênicos" ou do tipo "frio" e causadores da
problemática de seus filhos. Hoje em dia, este conceito não é aceito,
documentando-se nestas crianças, conforme já foi mencionado, um
comprometimento orgânico-neurológico central. É claro que nenhum pai
quer por vontade própria ter um filho doente ou lesado. É claro,
também, que existem situações onde os pais interferem na evolução
adequada dos filhos, mas isto não ocorre no Autismo e o diagnóstico
diferencial é bastante fácil.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
4 - Por que o atraso do desenvolvimento?
Não se sabe exatamente todas as causas que levam ao Autismo,
conseqüentemente não se consegue explicar corretamente o porquê do
atraso do desenvolvimento. Sabe-se, porém, que ele é devido a um
comprometimento neurológico central, com alterações no funcionamento de
enzimas que levam as células cerebrais a não funcionarem adequadamente,
acarretando, quando comprometidas, problemas diversos. Muitas pesquisas
têm sido feitas nesta área e descobertas importantes estão vindo à
tona, para exatamente melhorar e acelerar este atraso de
desenvolvimento.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
5 - As crianças com autismo têm atraso mental?
Infelizmente, cerca de 70 a 80% apresentam uma defasagem intelectual
importante. Cerca de 60% têm inteligência abaixo de 50 em testagens de
QI, 20% apresentam um QI entre 50-70 e apenas 20% têm um QI acima de
70. A maioria mostra uma variação muito grande com relação ao que
objetivamente podem fazer e oscilam muito de época para época. Não se
sabe explicar exatamente o porquê da associação entre Autismo e
deficiência mental, mas parece que o retardo mental está relacionado ao
mesmo problema básico que gerou o Autismo. Por outro lado, por não
conseguirem interagir adequadamente com o meio ambiente, aumentam ainda
mais a sua defasagem intelectual.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
6 - Qual a incidência desta doença?
Ela é baixa, acontecendo em cinco entre dez mil crianças e é quatro
vezes mais comum em meninos do que em meninas. Ela pode ocorrer em toda
e qualquer família, independente de seu grupo racial, étnico,
sócio-econômico ou cultural.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
7 - Como é a abordagem escolar?
Com o advento de técnicas especiais de educação para o deficiente
mental, ocorreram mudanças dramáticas na capacidade de aprendizado de
crianças em geral e, em particular, das crianças com deficiência
mental. O enfoque atual é fazer com que estas crianças aprendam
conceitos básicos para que funcionem o melhor possível dentro da
sociedade. As escolas especializadas, atualmente, individualizam o
tratamento para cada criança, tornando assim o aprendizado bem mais
específico e eficiente.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
8 - Os autistas precisam de psicoterapia ou psicanálise?
De psicanálise não, uma vez que esta técnica visa a explorar o
inconsciente e as motivações que aí ocorrem. Devido ao grau de lesão
que apresentam, elas não se beneficiam desta abordagem, não dispondo de
capacidade cognitiva para tal. Técnicas psicoterapêuticas,
especialmente desenvolvidas para o deficiente mental, têm sido muito
úteis para as crianças que apresentam problemas emocionais diversos.
Esta abordagem visa a uma reeducação, facilitando o contato
interpessoal e ajudando-as a aceitar melhor a problemática que têm, o
que as levará a funcionar mais adequadamente dentro da mesma. É
importante, porém, deixar bem claro que estas técnicas só funcionam
quando o profissional tem treinamento específico nas mesmas e se sente
motivado a ajudar. Além disto, o funcionamento intelectual cognitivo
específico destas crianças tem que ser levado em consideração para se
dimensionar adequadamente a terapia.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
9 - Existe tratamento?
Sim, e este vem evoluindo a cada ano que passa, não só na área escolar
como também médica. Em linhas gerais, a abordagem destas crianças é
semelhante à do deficiente mental grave, usando-se técnicas
comportamentais visando a induzir uma normalização de seu
desenvolvimento e lhes ensinando noções básicas de funcionamento, tais
como vestir, comer, higiene etc. São utilizadas, também, técnicas
especiais de educação detalhadas em grande profundidade neste livro. O
uso de medicamentos, tentando normalizar processos básicos
comprometidos, está sendo investigado, como é o caso da fenfluramine. O
uso de medicação sintomática, para tentar controlar melhor o
comportamento destas crianças, tornando-as mais fáceis de tratar com
técnicas escolares e comportamentais, está muito desenvolvido. O
resultado final é muito mais favorável, atualmente, do que há algum
tempo atrás.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
10 - E os pais precisam de psicoterapia, psicanálise ou orientação?
Os pais que têm filhos com problemas sofrem. Isto é inevitável e sem
exceção. E sofrem tanto mais quanto maior for a problemática do filho,
a dificuldade de tratamento, a cronicidade do processo e também quanto
maior for o seu nível de sensibilidade. Este sofrimento precisa ser
abordado não só por razões humanitárias, mas, também, para que
funcionem melhor como pais de filhos com problemas. Em outras palavras,
esta criança precisa de ajuda de toda e qualquer ajuda e pais que
tenham conseguido melhorar o seu funcionamento poderão fazê-lo muito
mais eficientemente. Se isto não ocorrer, esta criança deficiente terá
pais lhe dificultando ainda mais a vida.
Em resumo, esta criança tem direito a pais saudáveis!!!
Uma terapia ajuda neste sentido.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
11 - O que o psicoterapeuta faz ou pode fazer pelos pais?
O profissional ajuda os pais a compreenderem, discutirem, entenderem,
além de trazer à tona sentimentos universalmente presentes em todos
aqueles que têm filhos com problemas, ou seja, negação, culpa,
frustração, impotência, ressentimento, raiva, rejeição, além de
fantasias diversas. Ele ajuda a "trabalhar" estes sentimentos levando a
uma aceitação dos mesmos como algo normal e com isto desenvolve-se uma
sensação de alívio e de compreensão. Em resumo, de normalidade.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
12 - Somente um psicoterapeuta pode fazer este trabalho?
É claro que não. Uma pessoa realmente amiga, pais que já passaram por
algo parecido, uma professora com vivência do problema, uma pessoa
religiosa, por exemplo, podem ajudar e muito.
O importante é existir neste "ombro amigo" carinho, compreensão e a
capacidade de aceitar o sofrimento destes pais, de lhes orientar
objetivamente sem críticas pejorativas ou jogo de culpa. A diferença
destas pessoas para com o profissional é que este foi treinado para
isto.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
13 - Qual a diferença entre uma psicoterapia, psicanálise e orientação?
Em linhas gerais, todas são técnicas que visam a ajudar um indivíduo,
cada uma tendo as suas vantagens e limitações. Existem formas diversas
de psicoterapias com "linhas" ou "escolas" diferentes, sendo a
psicanalítica a mais divulgada e predominante no nosso meio. Poderíamos
situar a psicanálise e a orientação em extremos opostos. A psicanálise,
resumidamente, exige que todo o trabalho seja feito pelo paciente, que
ele desenvolva uma capacidade de introspecção e auto-análise e que ele
conduza a sua terapia trazendo temas e problemas. Já a orientação é
direta e objetiva, visando, especificamente, aos problemas dos pais,
"orientando-os" no manejo do dia-a-dia do filho, ensinando-lhes como
lidar com situações variadas. Em resumo, de um lado a descoberta por si
só, de outro o ensino, utilizando-se as mais diversas psicoterapias. O
ideal seria que o terapeuta conhecesse e soubesse usar todas as
técnicas ajudando, assim, mais abrangentemente o seu cliente. Em outras
palavras, em vez de vender roupas prontas nas quais o freguês talvez
não caiba, o bom seria o terapeuta ser um alfaiate que pudesse
desenvolver uma terapia "sob medida", pois "cada caso é um caso" e
apesar de semelhanças e generalidades o ser humano é único e exclusivo.
O tratamento também deve ser assim.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
14 - Do ponto de vista medicamentoso o que existe de objetivo para tratar os autistas?
Infelizmente, ainda não existe nenhum medicamento específico para
tratá-los, mas pesquisas diversas têm trazido resultados encorajadores
como é o caso da fenfluramine, droga que interfere diminuindo o nível
de serotonina, um neurotransmissor cerebral. Se ela se mostrar
realmente eficaz, será o primeiro tratamento neurofarmacológico
específico nesta entidade. Existem outros medicamentos não específicos,
como os antipsicóticos ou tranqüilizantes maiores, como a thioridazine
(Melleril), clorpromazina (Amplictil), halloperidol (Haldol), que atuam
controlando certos sintomas de auto-agressão, acessos de raiva
descontrolado e tornando a criança mais calma e manejável. Isto
aumenta, indiretamente, o seu potencial de aprender e se desenvolver.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
15 - Não existe a possibilidade destas medicações sedarem ou doparem a criança?
Sim, se forem usadas excessivamente ou em doses altas demais, ou seja,
inadequadamente. Conforme já foi dito, o uso de uma medicação do tipo
"tranqüilizante maior" visa a exclusivamente controlar um certo
comportamento como a agressividade, tornando a criança mais fácil de
ser tratada por outras técnicas. A dosagem deve ser suficientemente
alta para conter este comportamento e ao mesmo tempo baixa evitando a
sedação, pois estando dopadas não se beneficiarão destas novas
técnicas.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
16 - Qual a maneira adequada de utilizar certas medicações?
Os termos medicamentos "antipsicóticos" ou "tranqüilizantes maiores"
são sinônimos. Os bons resultados dependem muito mais de quem os usa do
que do tipo ou marca utilizada. O mais usado nos grandes centros é a
thioridazine (Melleril) que no nosso meio vem apenas em comprimidos de
50 mg. Usa-se um a dois comprimidos por dia, inicialmente,
observando-se a resposta terapêutica. Se não ocorrerem melhoras,
aumenta-se a dosagem gradualmente de 50 mg de dois em dois ou três em
três dias, podendo-se chegar a 400 mg por dia em uma criança de quatro
a seis anos. Obviamente se tentará evitar, conforme já foi citado,
efeitos colaterais desagradáveis, como sedação excessiva. É importante,
também, ressaltar que a utilização de uma dosagem baixa sem os efeitos
terapêuticos desejados é fútil, pois o paciente estará sujeito aos
efeitos colaterais da medicação sem se beneficiar da mesma. De tempos
em tempos, cerca de seis em seis meses, a redução da dosagem deve ser
tentada, verificando-se a possibilidade de continuar o tratamento sem a
utilização de medicamentos. Em outras palavras, quando utilizar uma
medicação isto deve ser feito corretamente. Outra observação importante
é o uso concomitante de outras abordagens ou técnicas que, se usadas
adequadamente, tornarão a medicação mais eficiente.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
17 - O que os pais podem fazer de objetivo para ajudar o seu filho ou a si próprios?
Inicialmente, apesar de todo o sofrimento emocional, eles devem encarar
e enfrentar o problema de frente. Como? Procurando ajuda profissional
especializada, competente, atualizada e séria. Como eles podem avaliar
isto? Perguntando, solicitando informações de outros e, obviamente,
também do profissional. Em outras palavras, nada de cerimônias. Está em
jogo o tratamento do seu filho. Além disto, devem estar em contato com
outros pais para troca de experiências e vivências e com isto evitar a
repetição de dificuldades, erros ou problemas. A criação de uma
Associação de Pais e Amigos de Crianças Autistas tem surtido bons
efeitos em outros países, e à semelhança da APAE (Associação de Pais e
Amigos do Excepcional), pois permite que se permute conhecimentos,
pesquisas e avanços nesta área. É crucial uma informação adequada dos
pais sobre esta doença. Estas associações dão também uma sensação de
coesão e meta, com isto se pode pressionar órgãos governamentais
visando aos interesses destas crianças. Pode-se, também, levantar
fundos junto a empresas e pessoas físicas para ajudar os menos
favorecidos. A vantagem global da participação dos pais nestas
atividades é que isto lhes dá a sensação de estar fazendo algo e não
apenas esperando alguém fazer algo por eles. Isto lhes mitiga a
sensação de impotência e inadequacidade. Também é importante a
publicação de literatura específica e periódica, assim como o convite
de especialistas para a troca de vivências e atualização.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg
18 - Estas crianças são ou podem ser felizes?
Todo ser humano tratado com carinho, amor e respeito sente-se querido e
amado e, conseqüentemente, é feliz. Estas crianças não são exceção. As
dificuldades que têm causam certos empecilhos para obter carinho, amor
e respeito, mas se o adulto souber redimensionar a sua escala de
valores estas crianças se tornam tão queridas quanto qualquer outra e
serão felizes. Os pais, por sua vez, passarão a vivenciar esta mesma
sensação. O inverso também é verdadeiro. Pais saudáveis e bem
equacionados, que souberam reavaliar expectativas e sonhos em relação
ao filho, poderão ser felizes e com isto lhes transmitir esta sensação.
Em resumo, pais de autistas podem ser bem ajustados, satisfeitos
consigo, estar de bem com a vida e ensinar isto ao seu filho que lhes
retribuirá esta sensação.
Fonte:
Gauderer, E. Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
guia prático para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter; 1997.
pg